Reconectar-se com a floresta, uma trilha de bem-viver

Se tem uma coisa que todo mundo concorda é que contato com a natureza faz bem. Nesse coro, religiões, pesquisadores, psicólogos, médicos, ecologistas, todo mundo canta a mesma nota. 

O professor de meio ambiente Walter Có diz que desde o barulho da mata até as bactérias que vivem nesses ambientes podem fazer bem para a saúde. Isso porque as bactérias da floresta ajudam a regular o intestino, que é o nosso segundo cérebro e tem grandes funções em nosso bem-estar.

O barulhinho da floresta, de chuva, de vento, de folha e cachoeira traz coisas boas para o cérebro, ao contrário do barulho de buzina, alarmes, sirenes e outras coisas que a cidade tem. Os barulhos que deixam a gente em alerta elevam os níveis dos hormônios de estresse, explica Walter Có. 

Já os sons da floresta e certas substâncias por elas liberadas elevam outros hormônios que são mais relacionados à sensação de saúde, alegria e bem-estar. Não é de se estranhar, então, que todos os amantes de floresta entrevistados por esta reportagem tenham uma vibe positiva. 

Se tem menos estresse e menos gatilhos de estresse, é claro que é mais fácil perceber coisas bonitas e positivas no caminho no meio do mato.

Uma técnica que vem sendo utilizada e recomendada é o banho de floresta, para diminuir a ansiedade e os efeitos psicológicos da vida corrida contemporânea. Existem lugares especializados, mas você pode também buscar ir mais a reservas naturais e ampliar seu contato com a natureza.

Nesta reportagem, reunimos histórias de pessoas que têm por hábito o contato com a natureza, e também dicas de reservas ambientais aqui no Espírito Santo. 

 
Pessoas caminham em trilha próxima à praia. No canto direito, é possível avistar árvores e uma capivara – provenientes da identidade visual do 10º Cine.Ema.
A imagem mostra um cenário de montanhas ao fundo, com três fotos polaroids colocadas em cima. A primeira mostra uma mulher embaixo de uma cachoeira, a segunda uma outra mulher fazendo trilha. A terceira foto mostra um dos personagens da nossa matéria em meio à mata.

cuidados a se ter na floresta

Desde que começou a faculdade de Engenharia Florestal em Jerônimo Monteiro, há quase 15 anos, Raquel Zorzanelli buscou trabalhar com preservação do meio ambiente. No início, Raquel visitava a Mata Atlântica em pesquisas ligadas à engenharia florestal.

Em seu mestrado, ela foi lá para a Amazônia, um sonho pra quem trabalha com floresta. O contato com aquele bioma desmitificou muito do que a pesquisadora ouvia e ampliou seu olhar. Foi nessa época que ela resolveu radicalizar suas escolhas de vida, virar vegana e ser cada vez mais ativista da preservação ambiental.

A Amazônia trouxe muito conhecimento, mas ao mesmo tempo trouxe a gana para trabalhar para preservar as espécies da Mata Atlântica. Na época, lá em 2015, ela lidava com os carrapatos amazônicos, precisava entrar sempre muito vestida e depois se lavar com sabonete de enxofre.

Para quem quiser se aventurar em matas fechadas, a dica que ela dá é muita roupa e muita observação. Você precisa lembrar que a mata estava ali antes de você e que animais peçonhentos existem. 

Vestimentas que protegem as canelas, como uma “perneira”, podem evitar picadas de cobra ou de outros bichos rasteiros. Mas também as matas fechadas podem arranhar, e por isso outras roupas ajudam a evitar ferimentos. 

estrela cadente

O veterinário Ronne Peterson gosta de se embrenhar nas florestas desde criança. Ele adora viajar e acredita que o tempo da natureza faz tudo dar certo. Por exemplo, ele conta sorrindo sobre o dia em que cruzou com um rabo de cobra venenosa enquanto fazia uma trilha noturna na Chapada Diamantina. A lição, para ele, depois de escapar por um triz de uma picada de cobra, é de aproveitar a vida.

“Eu sempre lembro que tudo dá certo”, conta. Ronne não tem preguiça de andar ou pedalar até 50km para chegar numa bela cachoeira.Ele gosta de acampar sozinho, de ver estrela cadente, de se integrar com a natureza e se abrir para as possibilidades de contato que as viagens e as trilhas dão.

O intestino produz muitos neurotransmissores, que o cérebro também produz, que influenciam diretamente no humor da gente. Então é incrível! Até o que você come – e os ambientes que você frequenta, adquirindo uma microbiota mais rica e diversa – vai afetar positivamente no teu bem-estar no final das contas.

Ao caminhar pela floresta, você não absorve apenas as substâncias que ela produz, que fazem você sentir bem-estar. Você leva para casa além disso as bactérias que estão ali e que vão ajudar no funcionamento do seu intestino e do seu organismo, gerando neurotransmissores que vão deixar você mais feliz ao longo da vida. 

A diversidade e a riqueza de vida da floresta acabam se traduzindo numa riqueza de vida dentro da gente. E essa riqueza de vida faz o corpo da gente funcionar melhor.
– Walter Có.

trilha nunca é demais

A psicóloga Valquiria Romaes Binow conta que sempre amou principalmente as cachoeiras e já perdeu as contas de quantas trilhas fez. Ela indica vários passeios e travessias longas: Lapinha e Tabuleiro, na Serra do Cipó, Serra dos Alves, Alto Palácios, e lugares escondidos em Belo Horizonte, todos em Minas Gerais. Cachoeira do Saco Bravo, em Paraty, e Travessia de Joatinga, no Rio de Janeiro. Mestre Álvaro e Pico da Bandeira aqui no Espírito Santo. 

“A travessia mais marcante para mim foi de Petrópolis a Teresópolis. Quero repetir umas 40 vezes ainda se possível. É algo que não dá para descrever, ao mesmo tempo é uma superação porque também é uma trilha bem difícil, uma travessia bem difícil, que exige bastante tanto do seu psicológico quanto do lado físico também”, conta. Valquiria defende que precisamos de doses de trilhas sempre. 

 

 

 

recarregando a bateria

A assistente jurídica Elenice Silva começou a fazer trilhas há 11 anos, com 36 anos. Depois disso, sua vida só melhorou.

“Me descobri quando comecei nas trilhas, fiz amizades lindas e fui em lugares lindos que normalmente o carro não consegue chegar. A correria do dia a dia nos desgasta muito e aí quando vou para o mato parece que revigora. É como uma bateria descarregada que toma uma carga completa de paz, verde, cheiro de mato. Sou feliz trilhando”, conta. 

Você sabia que dá pra visitar nossas reservas ambientais de graça?
Só Pedra Azul precisa agendar. Dá uma olhadinha:

Parque Paulo César Vinha

Parque de Itaúnas

Parque Estadual da Pedra Azul

Parque Cachoeira da Fumaça

Parque do Forno Grande

Tem saíra-apunhalada nesse parque. É um passarinho ameaçado de extinção que existe só no Espírito Santo e tem uma galera que faz um trabalho para protegê-lo. Foto: Leonardo Merçon.

Você conhece a Reserva da Águia Branca em Vargem Alta?

A Reserva Ambiental Águia Branca é uma Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN). Tem como objetivo proteger um dos maiores remanescentes florestais de Mata Atlântica da região montanhosa do estado do Espírito Santo e toda a sua biodiversidade associada, garantindo a conectividade com outras unidades de conservação, como os Parques de Pedra Azul e Forno Grande, e outros fragmentos remanescentes, além da proteção dos recursos hídricos e contribuição para o desenvolvimento territorial em bases sustentáveis.

Funciona todos os dias, das 9h às 16h, e o agendamento deve ser feito pelo WhatsApp (27) 99942-0474.

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Sumário
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Sumário
Revista Cine.Ema 5

01. Editorial: Estou de volta!

02. Amazônia: um vasto jardim milenar

03. Reconectar-se com a floresta

04. Click Brabo! Dicas de fotografia

05. Neurônios à la carte: a escolha dos alimentos molda seu cérebro

06. Biomimetismo: a natureza que transforma

07. Nem só de árvore vive o cinema ambiental

08. Os voos da Ema

09. Um click para o futuro

10. Missão impossível: cenas de uma câmera analógica

11. Quadrinhos: Antes do Fim

12. O futuro é agora!

13. Crônica: Luz, Câmera e... Reconexão!

14. A gente se vê no Cinema

15. Que monte de lei é essa?

16. Reciclagem começa dentro de casa

17. Você sabe como fazer uma animação?

18. Juntei meu lixo, e agora?

19. Dá para viver sem plástico?

20. Dicas para reduzir o plástico

21. Arte: Seja Raiz, Seja Caule, Seja Folha, Teça o Futuro, Reconecte-se!

22. A Fantástica Carpintaria