Textos

O pé de manga assombrado

Pedra branca,
uma pequena comunidade
localizada no interior
de Vargem Alta

Guarda em sua memória
várias histórias
que sempre serão
lembradas
Uma dessa, é contada
pela minha bisavó
é sobre um pé de manga
assombrado

Que depois
da meia noite deixam
todos calados

Quem passou lá
não quer passar mais
quem já ouviu algo
não quer ouvir mais

O pé de manga gemia
as suas folhas sacudiam sem parar
como se uma ventania só
acontecesse somente naquele lugar

Uma história mal contada
que ninguém sabia explicar
dizem que até hoje há algo
assombroso naquele lugar.

João Paulo de Souza Martins

O tesouro escondido

No município de Vargem tem uma pequena comunidade chamada Guiomar, rodeada por muitas árvores e lindas paisagens que escondem muitos mistérios. As pessoas mais velhas contam uma lenda muito antiga sobre um coronel e seus horríveis feitos.

Contam que ele teve 3 filhas, Matilde, Guiomar, Virgínia. Mas por ter muita ganância, antes de morrer mandou enterrar toda sua fortuna e plantar um pé de paineira em cima, para dificultar que encontrassem seu tesouro e plantou vários pés de paineiras em lugares estratégicos, que vistos de cima formam uma estrela. O centro dessa estrela seria onde o tesouro estaria escondido, que dizem ser em Guiomar.

Sempre que alguém tenta ir pegar, alguma coisa acontece que não os deixa chegar perto.

Uma vez, fui tentar e apareceram muitas abelhas, o que fez impossível chegar perto. Em outra vez, do nada começou um temporal muito forte que fez a gente desistir. Mas contam também que só quem é predestinado conseguiria encontrar o tesouro.

Não sei o que tem lá, mas não quer ser encontrado.

Maria Eduarda Martins Chiesa

Crônica de uma velha árvore

Foi uma competição de ruídos comuns num dia comum: o motor de uma serra elétrica, o ar se deslocando… Então os ruídos do grande tronco e galhos se espatifando no chão – tudo isso sob acompanhamento das vozes (que iam de murmúrios baixos a assobios e gritos) dos transeuntes que paravam para assistir. Essa trilha sonora marcou a queda, em 11 de agosto de 2020, do jequitibá centenário de Ponto Alto – Domingos Martins; símbolo da vila, na história e na cultura.

Uma árvore com dezenas de metros, algumas toneladas e muitos anos de vida veio a baixo, causando certa comoção na população local, até porque ela estava lá bem antes de qualquer um que a viu tombar, antes de seus pais também, avós também… Daí vieram os “mas que dó!” e os “ficou sabendo?” nas conversas de rua, no mercado, nos celulares e até mesmo numa breve manchete do jornal da região das montanhas.

Há muito, na verdade, se sabia que o velho jequitibá não estava muito bem. Em fevereiro de 2020 saíra a notícia no jornal, que citava a suspeita de que estivesse definhando. Desde lá a árvore recebia muitas visitas, muitos tirando fotos ao seu sopé – alguns abraçados – como se fosse um ente querido que adoeceu. Houve suspeita de que alguém o tivesse estiolado: também houve indignação da população; sentiram como se um parente estivesse sendo maltratado. Por fim, quando já não tinha mais vida, teve de ser derrubado: aos olhos de uma plateia de “parentes prestando as últimas homenagens”.

E o porquê disso? O sentido de toda a comoção pela árvore, onde estava? Como eu disse antes, mas desambiguando: não estava nas suas dezenas de metros, toneladas de massa ou tempo de existência. Estava nas gerações das quais ela foi contemporânea, na sua estampa na bandeira de Ponto Alto e no uniforme da escola do bairro. A comoção surgiu da simbologia de pertinência a ela empregada; símbolo de Ponto Alto, de Domingos Martins, do Espírito Santo, da Mata Atlântica. O jequitibá pertence à natureza. O homem também. Um atua sobre o outro, como uma família do homem e a mata – incluindo cada ipê, embaúba, palmeira… e o saudoso jequitibá como um lembrete disso.

Um mistério atrás de um conto

O sol já estava se despedindo e toda a beleza de fim de tarde estava dando espaço para o vento gelado, onde obrigava até os passarinhos a se recolherem nos seus ninhos. Uma casa simples, no interior das montanhas capixabas, abrigava a delicadeza de um povo genuíno e hospitaleiro. Foi alí, na casa dos meus avós que tive os melhores momentos da minha infância. Aquele lugar com uma mata densa ao lado, com passáros e animais de diversas espécies, trazia um ar bucólico e sereno. Poder estar alí nesse final de tarde me fazia muito bem. Meu avô tinha sempre o mesmo ritual ao entardecer, arrumava sua cadeirinha na varanda, pegava seu casaco preto, em seguida completava meio copo com café fresco e com um sorriso sutil me fazia viajar nas suas histórias.

Na maior parte das vezes seus contos se repetiam e falavam sobre seus antigos trabalhos, as festas que frequentava, os lugares e pessoas que conhecia. Porém hoje notei seu semblante carregado. estava pensativo e disperso, parecia estar relembrando alguma situação desagradável. Procurei saber o que afligia seus pensamentos e ele iniciou dizendo que antigamente ocorriam situações misteriosas que hoje em dia as pessoas duvidam e encaram como meras lendas e contos. Neste mometo compreendi que se tratava de algo novo a ser contado. Me acomodei de forma confortável e disse para prosseguir.

Meu avó relatou então, que na época dos seus vinte e poucos anos era frequente aos sábados à noite, ele e seu irmão sairem para dançar forró. Gostavam de frequentar um vilarejo que ficava a uns quatro quilômetros de onde morava. A situação dificil da época exigia que se deslocassem a pé até o local, mas nada tirava o vigor e entusiasmo presente nesses momentos.

Em uma noite corriqueira, voltando de uma festa os irmãos caminhavam tranquilamente pela remota estrada, sob o clarão do luar. Quando subitamente ouviram rugidos vindos da mata, eram barulhos aterrorizantes de uma animal que parecia estar correndo muito rápido. Amedrontados esperaram que o ambiente aquietasse para prosseguirem a caminhada até em casa.

Finalmente em casa, tudo parecia estar calmo e o assunto ficado para trás. Porém os cachorros do quintal começaram acoar e logo surgiram barulhos fortes de passos parecidos com os de cavalo correndo. Imediatamente os irmãos aproveitaram uma brecha na janela da sala para ver o que estava acontecendo. Ficaram atônitos, viram um ser de uns dois metros de altura, peludo, orelhas pontudas, cara e focinho de pastor alemão e olhos amarelados absurdamente brilhantes. A criatura parecia estar desordenada com as latidas dos cachorros, deu uma volta ao redor da casa e desapareceu entrando na mata fechada.

Voltando para minha realidade vi meu avó acrescentando mais café o copo e fixando seu olhar na lua cheia que iluminava a mata ao nosso redor. Mas eu ainda não estava conformado e dúvidas me pertubavam. Porém poucas foram as palavras que obtive como explicação e o que pçude perceber é que misterios existiam por trás disso tudo. Alguns chamavam de lobisomem, outros de criatura, outros porém preferiam não acreditar, mas algo enigmático intrigou meu avô por todo esse tempo. Algo que o fez pensar que a natureza abriga muitos mistérios e que muitas vezes fogem da nossa compreensão.

Braço Norte – Ponto Alto

Do grande Jucu vem a Água:
Água que dá e que toma;
Agua que traz e que leva
Água que limpa se bebe e enxágua…

Traz, essa água, a vida:
Matando a sede do povo,
Na seca, alimenta o solo
Vivendo o cultivo de novo.

Toma a vida, a água:
Assoreado e barroso
Como nunca outrora fora,
Na enchente é turva mágoa.

Mas o ciclo é uma linha infinita:
O “traz e leva” procede;
O Rio Jucu é para a vila
Renovação fluida que não se evita.

Scroll to top