Mês: junho 2020

Ver e fazer cinema na mata

Mostra de Cinema Ambiental do Cine.Ema sai de Burarama pela primeira vez e será realizada dentro da Reserva Ambiental Águia Branca, em Vargem Alta

Cine.Ema em Vargem Alta – Reserva Ambiental Águia Branca, foto de Débora Benaim

Já pensou ir ao cinema de um jeitinho totalmente diferente, com uma tela cercada de árvores, cachoeiras e muitos passarinhos? Pela primeira vez fora de casa, o Festival de Cinema Ambiental do Espírito Santo (Cine.Ema), realizado há quatro edições em Burarama, apresenta o melhor de suas obras audiovisuais em uma experiência inédita e incrível dentro da mata, na Reserva Ambiental Águia Branca, nas montanhas de Vargem Alta (ES).

Com programação selecionada, as mostras do festival trazem filmes de ficção, animação e documentário que refletem sobre as questões ambientais do nosso tempo, além de música, oficinas e outras atividades para adultos e crianças. As ações educativas incluem oficinas de cinema e de vídeo ambiental e observação de aves dentro e fora da reserva. J

O produtor Léo Alves, da Caju Produções, destaca que o Cine.Ema Itinerante oportuniza a realização do projeto em outras áreas que tenham sinergia com o meio ambiente. “O evento sai de um corredor ambiental para uma reserva nas montanhas capixabas. Esta é uma experiência inédita, uma oportunidade de praticarmos as nossas ações de educação ambiental em outros territórios do Espírito Santo”, comemora. A Reserva Ambiental Águia Branca fica no Km 303, Rodovia ES-164, em Vargem Alta.

Foto de Débora Benaim

O Cine.Ema

Inspirado na Pedra da Ema, cartão postal e ícone paisagístico e natural do interior do Espírito Santo, o Festival de Cinema Ambiental e Sustentável do Espírito Santo (Cine.Ema) é um projeto social e cultural de ampliação da consciência ambiental através do cinema, difundindo obras audiovisuais que tematizam e refletem sobre o meio ambiente e o desenvolvimento sustentável em mostras gratuitas. Amparado em três eixos principais que sustentam sua proposição (comunidade, memória e educação) o evento tem como objetivo principal a formação de público do interior no audiovisual.

Reserva Ambiental Águia Branca

Cercada do verde da Mata Atlântica, a Reserva Ambiental Águia Branca, com 2.225 hectares, constitui um dos fragmentos maciços primários de Mata Atlântica do Espírito Santo. Localizada entre os Parques de Forno Grande e da Pedra Azul, contribui para a conexão entre as duas Unidades de Conservação, interligando fragmentos florestais e preservando a biodiversidade, sendo relevante para as Bacias Hidrográficas de Rio Novo e Itapemirim, já que as florestas desempenham papel importante para a infiltração da água no solo.

Reserva Águia Branca – Foto de Léo Merçon

Na reserva há a ocorrência da saíra-apunhalada (Nemosia rourei), que figura na lista dos animais ameaçados de extinção. A ave é típica da região e chegou a ser considerada extinta por mais de 50 anos. Contudo, no final da década de 1990, pesquisadores comprovaram sua existência nas Regiões Sul e Serrana do Espírito Santo. O local é bastante procurado por observadores de pássaros de todo o mundo.

O Cine.Ema Itinerante em Vargem Alta tem o apoio da Prefeitura Municipal de Vargem Alta e da Reserva Ambiental Águia Branca, com o patrocínio do Grupo Águia Branca. O evento é uma realização da Caju Produções, Instituto Últimos Refúgios e Ministério da Cultura através da Lei de Incentivo à Cultura.

Burarama: O novo cenário audiovisual capixaba

Filmagens e mostras de cinema geram receita local, incrementam o mercado audiovisual e potencializam a cultura do pequeno distrito de Cachoeiro de Itapemirim (ES).

Burarama. Foto de Eliane Grillo

Cresce o interesse pela produção audiovisual em Burarama. Além da vocação turística ambiental, o distrito tem sido palco de diversas produções audiovisuais do Espírito Santo, despertando a atenção de curiosos interessados em descobrir o lugarejo, valorizando as memórias de seu povo, seus atrativos naturais e sua paisagem bucólica. Conhecida pela Pedra da Ema, ícone paisagístico e natural local, o distrito foi cenário do longa metragem de ficção “Teobaldo Morto, Romeu Exilado” do diretor Rodrigo de Oliveira e do documentário “O que bererico vai pensar” do diretor cachoeirense Diego Scarparo. Burarama receberá, agora, outras duas produções cinematográficas com as filmagens do curta metragem de ficção “Abelha Rainha” e do filme de longa metragem de ficção “Marraia”, recém aprovado no Edital do Governo do Espírito Santo.

Além do cenário para o audiovisual, o distrito de Burarama também é palco do Cine.Ema, o festival de cinema ambiental e sustentável realizado desde 2015, difundindo e fomentando práticas audiovisuais e de educação ambiental com os moradores. O projeto tem apoio da BRK Ambiental, Banestes e da Secretaria do Audiovisual do Ministério da Cultura.

Com filmagens previstas para o mês de maio, Abelha Rainha é um projeto de curta-metragem dirigido por Thayla Fernandes com produção executiva completa da Caju Produções e patrocínio do Ministério da Cultura. O filme revela ambientes emocionais sensíveis em uma história de amor singelo e ingênuo, num lugar feminino que favorece a construção de uma narrativa livre entre mulheres. O filme mostra a relação de afeto e interesse da jovem Isabel por Iraí, uma vendedora de mel no interior. O roteiro, escrito por Léo Alves (um dos únicos homens da equipe) com adaptações da diretora, trabalha com elementos bucólicos sob o ponto de vista de Isabel, que é uma jovem sonhadora, apaixonada, mas repressiva.

Marraia é uma Produção da Global Village Creative, num projeto assinado por Lourenço Campodell’orto Diniz e por Diego Scarparo com roteiro de Jovany Salles Rey adaptado do livro de Marcelo Grillo. O livro conta um episódio da infância do autor, um torneio de bolinhas de gude acontecido em Burarama, sua terra natal, valorizando a vila de colonização italiana, encravada nas montanhas do Sul do Espírito Santo.

Além de valorizar os ícones de Burarama, o audiovisual gera receita local e estimula a prática cultural no distrito, fomentando o mercado cinematográfico capixaba. A quarta edição do Cine.Ema está anunciada para os dias 08 e 09 de junho de 2018, já o filme de ficção Abelha Rainha será rodado na primeira quinzena de maio. Entre longas, curtas e mostras audiovisuais, a comunidade de Burarama se beneficia, pois é envolvida na mão de obra realizadora, além do aquecimento da oferta e dos serviços de hospedagem e alimentação.

MULHERES DO ESPÍRITO SANTO NO CINEMA

Primeiro filme completamente produzido pela Caju Produções, no Espírito Santo, tem 90% de mulheres na equipe.

Mulheres negras, mestiças, brancas, baianas, paraenses, capixabas, estreantes ou experientes no mercado audiovisual protagonizam Abelha Rainha, projeto de curta metragem vencedor do Prêmio Carmen Santos de Cinema do Ministério da Cultura, o único do Espírito Santo contemplado neste edital que homenageia, em seu título, uma das primeiras mulheres a produzir e dirigir filmes para o cinema brasileiro. O filme Abelha Rainha revela ambientes emocionais sensíveis em uma história de amor singela e ingênua, num ambiente feminino que favorece a construção de uma narrativa livre entre mulheres. A obra mostrará a relação de afeto e interesse da jovem Isabel por Iraí, uma vendedora de mel que mora no interior rural do Espírito Santo.

O roteiro, escrito por Léo Alves (um dos únicos homens da equipe) com adaptações da diretora, trabalha elementos bucólicos sob o ponto de vista de Isabel, que é uma jovem sonhadora, apaixonada, mas reprimida. O projeto é capitaneado pela estreante no cinema, a paraense Thayla Fernandes com produção executiva da baiana Luanna Esteves. Na equipe, destacam-se nomes de mulheres experientes no cenário audiovisual brasileiro como a atriz Suely Bispo e a diretora de fotografia Úrsula Dart. Além das funções de direção e produção, as mulheres também estão presentes na montagem e captação de som.

Uma das pioneiras no mercado da produção cultural no Espírito Santo, a Caju Produções também foi fundada por uma mulher em 2001. Tânia Silva começou sua trajetória na cultura em 1985, quando atuou na assistência de produção do primeiro show do Cazuza (conhecido também pelo apelido “Caju”) em Vitória (ES). Carioca radicada em Vitória, Tânia também assina a produção executiva do filme

Segundo levantamento recente da Agência Nacional do Cinema, a Ancine (2017), o mercado cinematográfico brasileiro é uma indústria protagonizada por homens brancos. Tendo como base os 142 longas-metragens brasileiros lançados comercialmente em salas de exibição no ano de 2016, a pesquisa mostra que são dos homens brancos a direção de 75,4% dos longas. As mulheres brancas assinam a direção de 19,7% dos filmes. Nenhum filme em 2016 foi dirigido ou roteirizado por uma mulher negra.

Com filmagens previstas para o mês de maio no distrito bucólico de Burarama, em Cachoeiro de Itapemirim, Abelha Rainha já é uma experiência de reflexão nos bastidores da pré-produção. Para Luanna Esteves, produtora executiva, o filme é um impulso para discussões sobre questões de gênero e representação.“Cada escolha no filme é uma oportunidade de exercer a escuta, dar voz, dar as mãos. Das escolhas estéticas, da narrativa… Tem sido um processo de muita sensibilidade, uma parceria real entre nós, mulheres. É um filme essencialmente feminino e tentamos trazer isso para o processo de sintonia da equipe também. Cada uma se coloca, agrega, soma e nos sentimos mais fortes, mais potentes assim”, afirma Luanna.

Para a diretora do filme, Thayla Fernandes o projeto também é uma oportunidade de politizar o mercado. “Acredito que o campo do audiovisual ainda há um número diminuto de mulheres ocupando funções principais, e não por falta de talento, de profissionalismo, de visão. Trabalhamos para que nosso curta seja mais um movimento no sentido de romper com isto, e da forma mais horizontal e coletivizada possível”, afirma a diretora.

Num tempo onde as mulheres ainda não alcançaram o grau de representatividade e equilíbrio na produção audiovisual do Brasil, discussões como estas se tornam muito importantes para o desenvolvimento do cinema.

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